O Dólar Realmente Impulsiona as Exportadoras?
- Ronan Alexandre
- 5 de mar.
- 3 min de leitura
A crença de que a alta do dólar beneficia empresas exportadoras brasileiras é amplamente difundida. Afinal, companhias que vendem para o exterior, com receitas em moeda forte, deveriam se valorizar quando o real perde força. Mas será que essa relação é tão linear assim?
Nos últimos anos, o Brasil passou por diversas ondas de desvalorização cambial, impulsionadas por crises econômicas, instabilidade política e eventos globais como a pandemia de 2020. Diante dessas oscilações, analisamos dados reais para entender como empresas como Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11), Weg (WEGE3) e Embraer (EMBR3) reagiram às variações do câmbio. A correlação entre o dólar e o desempenho dessas ações realmente confirma essa tese?

O Que os Dados Dizem? Nem Tudo É Tão Óbvio
Ao observar o retorno acumulado das empresas exportadoras desde 2018, fica evidente que algumas delas se beneficiaram claramente da valorização do dólar, enquanto outras não seguiram essa lógica de maneira tão previsível.
Durante a pandemia, quando o real se desvalorizou rapidamente, o desempenho das exportadoras foi misto. Suzano e Klabin, por exemplo, apresentaram forte recuperação, impulsionadas não só pelo câmbio, mas também pela alta nos preços da celulose. Já Weg, mesmo com grande exposição internacional, não teve a mesma sensibilidade ao dólar, pois possui fábricas em diferentes países, o que reduz sua dependência de um real mais fraco.
Embraer, por sua vez, é um caso à parte. Apesar de ter receita dolarizada, a empresa passou por dificuldades ligadas ao setor de aviação, adiamento de pedidos e incertezas na parceria com a Boeing, o que comprometeu seu desempenho em determinados períodos.

Correlação com o Dólar: Nem Sempre Negativa
Se a valorização do dólar impulsionasse todas as exportadoras, esperaríamos encontrar correlações positivas consistentes entre suas ações e o câmbio. No entanto, a análise dos últimos anos mostra que essa relação é bastante variável e depende do contexto econômico.
- Suzano e Klabin tiveram, de fato, uma correlação positiva mais estável, chegando a 0,3 ou 0,4 em períodos de forte desvalorização cambial. Isso indica que um real mais fraco geralmente impulsiona essas empresas, mas o efeito pode ser amplificado ou reduzido por fatores como preço das commodities.
- Weg apresentou uma correlação mais negativa do que próxima de zero, mas recentemente a correlação ficou positiva, sugerindo que seu desempenho é mais influenciado pelo crescimento global do que pelo câmbio em si.
- Embraer, apesar de atuar no mercado internacional, teve correlação altamente volátil, variando de -0,4 a +0,1, o que reflete a complexidade do setor aeronáutico e a importância de outros fatores, como demanda por novas aeronaves e contratos governamentais.
Esses dados mostram que um real desvalorizado pode beneficiar exportadoras, mas não de maneira uniforme. Há períodos em que outros fatores econômicos pesam mais na precificação das ações do que o câmbio em si.
O Que Podemos Aprender Com Isso?
A relação entre exportadoras e dólar não pode ser vista de forma isolada. Três pontos importantes surgem dessa análise:
1. Nem toda empresa exportadora responde diretamente ao câmbio. Fatores como preço de commodities, demanda externa e estrutura de custos são determinantes para o desempenho de cada companhia.
2. Crises geram impactos diferentes para cada setor. A pandemia de 2020 fortaleceu algumas empresas devido à alta do dólar e da demanda externa, mas afetou negativamente outras, como Embraer, que sofreu com a paralisação do setor de aviação.
3. O câmbio é apenas uma peça do quebra-cabeça. Empresas globalizadas, como Weg, conseguem mitigar oscilações cambiais, tornando sua correlação com o dólar menos relevante. Por outro lado, companhias com receitas atreladas a commodities, como Suzano e Klabin, tendem a se beneficiar mais de um real desvalorizado, mas nem tanto assim como vimos na análise.
Conclusão
A ideia de que o dólar impulsiona as exportadoras brasileiras tem fundamento, mas a análise histórica mostra que a relação não é tão simples. O câmbio é um fator relevante, mas precisa ser considerado em conjunto com outros elementos, como ciclo de commodities, ambiente macroeconômico e desafios específicos de cada setor.
Para quem acompanha o mercado e toma decisões estratégicas, entender essa dinâmica pode fazer a diferença na construção de um portfólio mais eficiente e alinhado com os cenários econômicos.
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